sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Operação investiga remessas a paraísos fiscais



A operação Lava-Jato esmiúça o mecanismo de envio de recursos supostamente desviados da Petrobras para contas bancárias em paraísos fiscais. O esquema conta com remessas a empresas offshore na China, principalmente em Hong Kong.

Com a colaboração do governo da Suíça, os responsáveis pela investigação da Lava-Jato no Brasil compreendem todo o intricado sistema elaborado pelo doleiro Alberto Youssef: o dinheiro supostamente desviado era enviado a bancos chineses para ser redistribuído a dezenas de contas secretas em bancos na Europa. Falta saber como o dinheiro desviado saiu das contas chinesas.

A Juízo Final, sétima etapa da investigação, foi deflagrada com foco em supostos crimes praticados por gigantes da construção civil, e agora aprofundou a análise de toda a documentação apreendida desde março deste ano.

Acusado de lavagem de dinheiro, Leonardo Meirelles - sócio do laboratório Labogen, que quase fechou contrato milionário com o Ministério da Saúde - aparece descrito no inquérito como operador do doleiro Alberto Youssef.
"O alvo [Meirelles] envia uma série de documentações a bancos no exterior para abertura de contas correntes e posterior simulação de contratos de venda de produtos (...) dissimulando o caráter ilícito de transferências internacionais de recursos financeiros", anota um agente federal em relatório de inteligência policial. "Foram identificados contratos que totalizam uma possível movimentação superior a US$ 23.420.000,00."

Segundo a Polícia Federal, Meirelles abriu contas correntes de quatro empresas no Hang Seng Bank Limited "com contratos que simulam relações comerciais entre suas próprias empresas no Brasil e suas empresas em Hong Kong".

Para os policiais, a análise do material apreendido nas empresas Arbor e GFD, que pertencem a Youssef, em São Paulo, comprova a conexão entre os repasses recebidos por firmas de fachada do doleiro no Brasil e remessas a offshores no exterior.

Entre os documentos um item chamou a atenção da equipe de investigadores: "Trata-se de uma tabela contendo dados relativos a um suposto contrato previsto ou firmado entre o Consórcio CNCC e a Clyde Union Imbil no valor global de R$ 22.754.804,04", diz o relatório.

No material são indicados, por meio de abreviaturas e prenomes, os supostos beneficiários das comissões líquidas a serem rateadas, informa o documento.

Segundo a Polícia Federal, a análise do material revela "comissões devidas" para "[a empresa] Sanko, [o doleiro] Beto [Alberto Youssef], [o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras] Paulo Roberto Costa e a construtora [Camargo Corrêa], ou seja, 80% do total iam para as mãos de Alberto Youssef".

Outro documento apreendido pelos policiais na GFD, uma proposta comercial, é considerado evidência do envolvimento do Consórcio CNCC com remessas ilegais a offshores na China. "Trata-se de uma proposta comercial datada de 14/06/2012 endereçada ao senhor Edmundo Trujillo, diretor do CNCC, realizada pela empresa Clyde Union Imbil". Trujillo foi obrigado a comparecer à PF em 14 de outubro, quando foi deflagrada a atual fase da operação Lava-Jato.

O perito diz estranhar que esteja "em poder de Youssef documento contratual milionário entre a CNCC e outra empresa [...], vez que não há relação societária ou trabalhista entre essas empresas e Youssef", informa o relatório. O contrato menciona mais de R$ 12 milhões para aquisição de bombas hidráulicas para a obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

A Polícia Federal espera a chegada de documentos e extratos bancários obtidos pelos procuradores integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, que retornam hoje de uma viagem à Suíça. A equipe se reuniu com autoridades suíças para tratar do repatriamento de cerca de US$ 26 milhões, dos quais Paulo Roberto Costa abriu mão.

A incursão ao país europeu é etapa fundamental da operação para a obtenção de provas que demonstrem o caminho do dinheiro enviado do Brasil ao exterior por operadores, segundo a apuração.

Os investigadores estão convencidos de que o dinheiro da Petrobras foi distribuído para contas bancárias na Suíça, em Luxemburgo, em Jersey e no principado de Liechtenstein - onde foram identificados depósitos atribuídos ao suposto operador do PMDB, Fernando Soares, o Baiano.

As delações premiadas de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef orientaram os delegados e procuradores da Lava-Jato a procurar pelos operadores de PT, PMDB e PP que, segundo os relatos, viabilizavam a chegada do dinheiro a contas secretas em paraísos fiscais.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Camargo Corrêa disse que "desconhece e repudia as referidas acusações e informa que segue à disposição das autoridades para colaborar com as investigações". Procurado, o grupo Sanko não retornou o pedido de entrevista feito pela reportagem. 

Fonte: Valor Econômico.