quinta-feira, 17 de abril de 2014

Faroeste soteropolitano




Disponível também em fredericocattani.com.br

A cidade dormiu apreensiva e, à medida que acordava, a sensação de medo ganhou contornos concretos no segundo dia de greve dos policiais militares: ruas vazias, estações de transbordo sem ônibus, lojas arrombadas, saques, arrastões e assaltos, pedestres com medo, escolas e faculdades fechadas. No Centro e na periferia, o comércio viveu uma madrugada atípica. 

No Pero Paz, três lojas foram arrombadas e saqueadas numa mesma rua. Com medo, comerciantes nem abriram as portas. “Pensei que estava no Iraque. Como é que dorme? Foi muita zoada (dos saques). Como não foi dentro da minha casa, não fui olhar”, contou um morador de São Caetano — onde o comércio popular também ficou fechado.

Já no IAPI, ladrões levaram toda a mercadoria de pelo menos dois estabelecimentos. Os alvos foram lojas de calçados, roupas, aparelhos eletrônicos e alimentos. “Levaram roupas dos manequins, televisores, telefones, computador, ventiladores e até cabelos”, disse o empresário Vivaldo Júnior, 40, dono da Erica Hair, em São Marcos, também saqueada.

Duas lojas da Cesta do Povo foram arrombadas e saqueadas na madrugada — no Vale do Ogunjá e Comércio. Ainda no bairro, todos os aparelhos da vitrine de uma loja de celulares foram levados.

No Centro Histórico, pelo menos duas joalherias foram arrombadas: na Ladeira da Praça e na Praça da Sé. Já na Rua Chile, uma lan house e uma perfumaria, que funcionam no mesmo imóvel, foram saqueadas.

Na Avenida Lima e Silva, Liberdade, um carro foi usado na tentativa de arrombamento
de um salão. A grade do estabelecimento foi derrubada por um Sandero (placa NTD-6021). O portão, no entanto, não foi violado.

Para o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, os prejuízos são “imensuráveis”.

Comerciantes não puderam registrar os roubos em delegacias por conta da paralisação de 24 horas de investigadores, escrivães e peritos técnicos da Polícia Civil. As atividades serão retomadas hoje.

Quem não foi alvo dos saqueadores dispensou funcionários e fechou mais cedo. Shoppings que abriram as portas, mesmo com segurança privada, encerraram o expediente às 17h — normalmente funcionam até as 22h. O clima de insegurança só aumentou até o final do dia. 

No início da tarde, o Extra da Avenida Vasco da Gama foi assaltado por um grupo armado. Após o assalto, a loja encerrou as atividades, “para manter a integridade dos clientes e funcionários”, segundo nota da rede. A loja não divulgou quais produtos foram roubados.

Os saques continuaram e, no final da tarde, 26 pessoas foram presas e um adolescente apreendido em flagrante ao roubar calçados e roupas de uma loja também na Avenida Lima e Silva. À noite, a PM informou que, ao todo, 50 pessoas foram presas.

Ontem de manhã, oito rapazes que participaram de um arrastão entre o Jardim de Alah e o Parque Costa Azul foram conduzidos à 9ª Delegacia (Boca do Rio). Com o grupo, foram encontrados vários pertences de vítimas. Um dos ladrões tentou fugir nadando, mas foi capturado. 

Também foram relatados casos de grupos armados aterrorizando a população — como no Resgate. “Eles chegaram em motos fazendo arruaça. Tinham roubado uma mulher, na entrada do bairro, e próximo ao final de linha fizeram outra vítima”, contou o funcionário de uma padaria.

Ontem, por volta das 11h, as lojas da Insinuante e Casas Bahia, que ficam na entrada do bairro, fecharam as portas, enquanto funcionários da Farmácia Pague Menos se mantinham trancafiados — após o assalto a uma pedestre.

“A gente dá um duro retado para comprar as coisas com dificuldade e aí vem dois ladrões, põem a arma na sua cabeça e levam tudo”, disse a vítima entre soluços e lágrimas. 

Agentes da Transalvador reduziram o atendimento nas ruas, assim como a Guarda Municipal. 

Agências bancárias no centro da cidade e em bairros periféricos fecharam as portas por orientação do Sindicato dos Bancários. Uma agência do Itaú foi arrombada, na madrugada de ontem, na Calçada.

De acordo com o sindicato, nas cidades do interior do estado onde há greve, as agências não estão funcionando. A assessoria da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que não recebeu nenhum comunicado das instituições financeiras sobre anormalidade no atendimento no estado. Trabalhadores tiveram dificuldade para encontrar transporte na rua e nas estações da Lapa e Pirajá. Quatro empresas deixaram de circular mais cedo por medo de assaltos e arrastões.
“Desisti de ir trabalhar, fiquei em casa”, contou Agda Souza, 38 anos, moradora de São Caetano, que trabalha em uma clínica na Graça.

Houve confusão na porta da empresa São Cristóvão, em Campinas de Pirajá, por volta das 7h. Rodoviários teriam sido obrigados a sair para trabalhar pela direção da empresa. Na confusão, alguns ônibus da empresa foram apedrejados.

Fonte: Correio 24h.