segunda-feira, 15 de julho de 2013

Investidor busca pechinchas em mercados emergentes




Disponível também em fredericocattani.com.br


As vendas generalizadas de ativos nos mercados emergentes estão estimulando alguns investidores a voltarem em busca de ações, títulos de dívida e moedas baratos. Mas elas também estão fazendo com que esses caçadores de pechinchas sejam muito mais cuidadosos que no passado.

Mercados do Brasil à China vêm caindo desde meados de maio diante da crescente expectativa de que o Federal Reserve, o banco central americano, está se preparando para encerrar seu programa de compra de títulos de dívida de US$ 85 bilhões por mês. 

Isso poderia acabar com o fluxo de dinheiro fácil para os mercados emergentes, num momento em que as perspectivas de crescimento econômico de alguns deles começam a piorar. Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional cortou sua previsão de crescimento para a economia mundial em 2013, citando a desaceleração dos mercados emergentes como a principal razão.

Os investidores que estão comprando esses ativos têm uma visão diferente. Eles dizem que dois meses de saída de investimentos levaram embora muito do capital especulativo - dos fundos de hedge e outros investidores de curto prazo - que provocaram a alta dos preços dos ativos. Eles vêem pouca mudança nos principais motivos que os atraíram antes a esses mercados: crescimento mais rápido e retornos maiores do que no mundo desenvolvido.

"Em alguns lugares, a correção gerou oportunidades", disse Michael Gomez, um dos chefes da equipe de gestão do portfólio de mercados emergentes da Pacific Investment Management Co.

Os ativos que estão se saindo bem neste mês, do peso mexicano às ações do Oriente Médio, têm pouco em comum, ressaltando como o possível recuo dos estímulos do Fed está forçando os investidores a serem mais criteriosos. Eles estão migrando para países que melhoraram suas finanças e não dependem de financiamento externo para crescer.

O Pimco Emerging Local Bond Fund, com US$13,5 bilhões em ativos, comprou recentemente títulos mexicanos e brasileiros, atraído pela sólida situação financeira do México e pelos altos retornos oferecidos pelo Brasil. "É difícil achar um país com grau de investimento similar, razoavelmente sólido e que paga tanto", disse Gomez sobre os títulos de dívida brasileiros. 

Na sexta-feira, o rendimento dos títulos de dez anos denominados em reais era de 10,97% ao ano. No início de maio, eles estavam sendo negociados a 9,61%. Os juros sobem quando os preços caem. Os títulos de dez anos do Tesouro dos EUA ofereciam rendimento de 2,603% ao ano na sexta-feira.

Os investidores retiraram o valor recorde de US$ 37 bilhões dos mercados acionários e de títulos dos países emergentes em junho, segundo a firma EPFR Global. O dólar também atingiu valorização recorde contra muitas moedas. Em relação ao real, o dólar subiu 10,7% no ano até agora. As saídas de recursos do Brasil ocorreram devido à preocupação dos investidores com a desaceleração do crescimento e a alta da inflação.

Durante a pior fase da debandada, mesmo os países que atraem os investidores devido ao seu crescimento constante e sua estabilidade política viram uma grande liquidação de ativos. Agora, esses ativos estão à venda a preços atraentes, dizem investidores.

O peso mexicano, por exemplo, e os títulos de dívida do país estão entre os investimentos que tiveram o melhor desempenho antes de maio, com os investidores apostando que as reformas econômicas poderiam garantir anos de crescimento constante. Mas eles sofreram quedas acentuadas com a saída de recursos, e a cotação do peso atingiu um mínimo de 11 meses em 20 de junho. Desde então, a moeda mexicana subiu 4%.

Thanasis Petronikolos, que é chefe da área de mercado de dívida de países emergentes na firma londrina Baring Asset Management Ltd. e administra US$ 132,7 milhões em ativos, começou a comprar a moeda mexicana em meados de junho. "Nada mudou estruturalmente no México nos últimos dois meses", disse ele. Alguns investidores estão procurando por proteção extra contra futuras oscilações do mercado. Ações de empresas de petróleo e gás do Oriente Médio têm se mostrado mais resistentes do que as de outros mercados emergentes. O motivo é que os preços do petróleo subiram recentemente, apesar da queda da maioria das outras commodities. As moedas desses países também estão atreladas ao dólar, então não foram afetadas pela corrida à moeda americana.

A desvantagem é que os mercados de ações e títulos nesses países são pequenos, o que torna difícil entrar e sair desses mercados rapidamente.

É verdade que parte desse boom foi sustentado pelas historicamente baixas taxas de juros dos EUA, Europa e Japão, que levaram os investidores a buscarem ganhos em outros lugares. Mas alguns investidores estão relutantes em voltar aos emergentes, ressaltando que mesmo os países mais fortes foram golpeados nessa última crise e podem ficar vulneráveis a movimentos mais amplos do mercado no futuro.

"Só porque há oportunidades hoje, não significa que teremos uma rápida recuperação da turbulência que estamos vendo", disse Andres Calderon, gerente de portfólio da Hansberger Global Investors Inc., que administra US$ 5,4 bilhões em ativos.

Fonte: Valor Econômico.