Aquilo que até agora
parecia ser um problema das famílias superendividadas no Brasil dá pistas de
que está se tornando um fenômeno maior. As empresas, principalmente as pequenas
e médias, também estão deixando de pagar suas contas em dia.
Dados do Banco Central
mostram que a inadimplência das pessoas jurídicas em julho ficou em 4% da
carteira, patamar idêntico ao de janeiro deste ano. É o maior nível de calotes
já registrado entre as empresas desde junho de 2001.
Mas não é só isso. O
aperto na situação financeira já deixa como efeito colateral o aumento do
número de companhias em dificuldade. Entre janeiro e agosto, foram feitos 544
pedidos de recuperação judicial, de acordo com a Serasa Experian. O volume
supera em 54,6% os 352 requerimentos apresentados no mesmo período do ano
passado. As solicitações de falência subiram de 1.214 para 1.367 na mesma base
de comparação.
Linhas de crédito
tradicionalmente usadas por companhias de menor porte registram a escalada da
inadimplência desde o começo do ano. É o caso da conta garantida, espécie de
cheque especial das empresas. A inadimplência, acima de 90 dias, chegou a 6,3%,
o que representa 0,6 ponto percentual a mais que no início deste ano.
Muitas companhias se
endividaram em 2011 e agora não conseguem honrar os pagamentos. "No ano
passado, as empresas se prepararam para um forte crescimento da economia em
2012, que acabou não vindo", diz Sérgio Lulia Jacob, vice-presidente do
ABC Brasil, especializado em crédito para médias empresas - segmento que mais
tem sido penalizado.
Se a inadimplência
alcançou as companhias de médio porte, a questão é se os calotes não podem
chegar às maiores. Algumas têm recorrido à ajuda de bancos ou empresas de
assessoria financeira para reestruturar suas dívidas.
Um caso extremo é o da
Rede Energia, que contratou o Rothschild para remodelar suas obrigações financeiras
- caras e concentradas no curto prazo. No fim de junho, o grupo tinha dívida
líquida de R$ 5,5 bilhões e somava R$ 586 milhões em empréstimos de longo prazo
atrasados. Os problemas financeiros são antigos, mas agora se tornaram
insustentáveis.
A procura por serviços de
remodelagem de dívida aumentou neste ano, segundo fontes ligadas a bancos de
investimentos. Em uma renomada butique financeira, esse tipo de atividade
representa cerca de 40% da receita acumulada desde janeiro.
Mesmo assim, casos extremos
parecem pontuais. "Não vejo o risco de o problema subir para o topo da
pirâmide. As grandes empresas estão pouco alavancadas, aproveitaram os últimos
anos para alongar seus passivos. É um quadro diferente daquele da base da
pirâmide", diz o executivo de um banco de investimento responsável por
emissões de títulos de renda fixa.
Há ainda algumas
dificuldades para empresas em processos de recuperação judicial. Segundo
Antonio Aires, sócio da Navus Consultoria, especializada em renegociação de
passivos, os bancos têm dificuldades para aprovar novos empréstimos para
companhias nessas condições, pois o BC exige uma provisão de capital elevada,
encarecendo a operação, mesmo com a garantia legal de prioridade no recebimento
dessas dívidas pela Lei de Falências. "Os bancos preferem evitar que as
empresas entrem em recuperação judicial."
Fonte: Valor Econômico.