terça-feira, 22 de maio de 2012

Economista americano rebate críticas e acredita em crescimento sustentável para o Brasil


          Na última semana a revista Foreign Policy publicou um artigo assinado pelo economista  norte-americano Albert Fishlow, estudioso da economia brasileira há mais de 40 anos, que comenta a expectativa pessimista de alguns especialistas para o futuro financeiro do Brasil. 

          A publicação rebate o artigo publicado anteriormente na Foreign Affairs, em que o economista Ruchir Sharma, afirma que a economia brasileira se sustenta sobre uma "base de barro", pois depende da demanda por produtos primários e que, “com a demanda global começando a cair, se o Brasil não tomar medidas para diversificar seu crescimento, poderá afundar junto."

          O Brasil, que apresentou crescimento de quase 5% ao ano entre 2004 e 2010, registrou um crescimento de apenas 2,7% no ano passado. A indústria foi a que mais sofreu, devido ao aumento da participação de bens importados, em detrimento dos produtos locais. O artigo considera que o aumento da inflação pode esfriar o entusiasmo dos investidores estrangeiros e questiona, se o tempo do Brasil como centro, cérebro e coração da economia latino-americana, está chegando ao fim. 

          O Banco Central, sob liderança de Alexandre Tombini, optou por tornar o crescimento a mais alta prioridade.  A grande questão, então, é se a inflação irá se manter estável. Os investidores  desconfiam da previsão de que os preços irão cair para a meta até dezembro. De fato, críticos argumentam que o "banco teria saltado fora do barco" e, que deixarão de conter a inflação à custa do crescimento. 

          Albert Fishlow discorda. Para ele, o excesso de capacidade produtiva global significa que quem exporta para o Brasil terá um mercado aberto para receber qualquer transbordamento na produção. Com a queda na taxa de câmbio de 25%, desde o pico, no ano passado, os produtos brasileiros já aparecem competitivos nos mercados mundiais e uma redução maior seria "injustificada", afirma. 

          A alta dos preços da soja e do ferro para exportação em 2011 está provavelmente acabando, e a economia do país não deverá "surfar em mais nenhuma onda" de aumento dos valores das commodities globais. 

          O autor destaca a diversificação que compõe a economia brasileira, com forte componente da agricultura, minerais, petróleo, manufaturados e um setor de serviços desenvolvido. No entanto, Fishlow avisa que os investimentos feitos pelo governo precisam ser ampliados para que o crescimento nacional continue firme. De acordo com o pesquisador, o nível precisa atingir cerca de 25% do PIB. O problema, segundo ele, é balancear as mudanças com uma nova classe média com ânsia de consumo, em um continente que não está acostumado a poupar.

          Aumentar os impostos e contar com investimento estrangeiro são apontados como situações não muito favoráveis para aumentar o nível de investimento do país. A “última esperança” do Brasil seria contar com investimentos poupados pelos setores públicos, afirma. A poupança do governo está finalmente em “boa forma”, graças, inclusive, a um taxa de juros mais baixa. Mas muito mais “deveria e poderia” ser feito para controlar as contas nacionais.

          O economista cita as altas pensões do setor público brasileiro como um dos problemas a serem combatidos, embora lembre que medidas de modificação já foram feitas. Outra fonte provável de poupança são os altos lucros da Petrobras e os royalties pagos pelas companhias privadas de petróleo. Segundo Fishlow, o Brasil precisa resistir as tentações e realocar o dinheiro em investimentos que gerem produtividade e sugere um fundo independente para controlar o capital. 

          O Brasil está mesmo em uma encruzilhada, afirma ele. A força da economia, a potência política da presidente, que possui uma taxa de aprovação inédita e controla bem os diversos setores do país são essenciais para continuar o crescimento. Mas agora começa a parte árdua: convencer os brasileiros “que a gratificação imediata deverá ser adiada em nome de um bem maior”, finaliza Fishlow. 

Fonte: Jornal do Brasil.